#MUSEUdeMEMES Entrevista: Chapolin Sincero

27 jul
Por
Rodrigo Firmino
Graduando em Estudos de Mídia (UFF).
Entrevista com
Renan Schwarz
Criador do meme Chapolin Sincero.

Chapolin Colorado, no original Chapulín Colorado (a palavra chapulín tem raiz asteca e significa gafanhoto. Por isso, o herói tem antenas e veste um fraque com cauda vermelha) é um personagem criado por Roberto Gómez Bolaños, para uma tele-série de mesmo nome, exibida no México entre 1970 e 1979, junto a outros programas de humor produzidos, roteirizados e estrelados por Bolaños, o Chespirito. O personagem é um super-herói picaresco, que satiriza os heróis norte-americanos oriundos das histórias em quadrinhos, através de seus fracassos e desventuras. E fez (e ainda faz) enorme sucesso, não apenas na televisão mexicana, mas nas tardes brasileiras, com exibição reprisada durante décadas pelo SBT.

Chapolin Sincero, no original Chapolin Sincero, é um personagem criado por Renan Schwarz, à época estudante de publicidade, para uma página de humor, no Facebook (e hoje também no Instagram), em 2012. O personagem é uma adaptação da criação de Bolaños para o universo dos memes de internet, e é um dos maiores cases de sucesso nas mídias sociais do Brasil, com quase 12 milhões de seguidores no Instagram e mais de 6 milhões no Facebook atualmente. A página se inspira no histórico de frustrações e desilusões do herói mexicano para desenvolver um humor cuja chave principal está no suspense entre a frase que antecede e a que sucede a imagem de Chapolin, geralmente uma situação cômica que enfatiza a quebra de expectativas. O formato clássico de image macro adotado pelos administradores da página prioriza duas legendas, uma superior e uma inferior, e uma imagem do personagem. Há uma variação pequena de imagens, dois ou três close-ups no rosto do personagem, uma imagem de Chapolin sentado em uma poltrona, outra dele estirado no chão, não muito mais do que isso. Em alguns memes, adota-se o formato sequencial, como em tirinhas.

Em 2017, Chapolin Sincero esteve brevemente ameaçada de ser descontinuada, em razão de um conflito de direitos de reprodução e imagem, solucionado através de um acordo com o Grupo Chespirito logo em seguida. Na ocasião, muitos fãs argumentaram contra a proibição, dizendo que o Chapolin Sincero era um grande divulgador da obra de Bolaños e que o personagem seria uma bela homenagem ao humorista. Os memes de internet, muitas vezes, não apenas borram as fronteiras entre realidade e ficção, mas obnubilam também os limites entre ficção e ficção. Onde começa e onde termina o Chapolin de Chapolin Sincero? Como é o processo criativo sobre um personagem que já foi criado? E como é criar conteúdo sobre um personagem que saiu da televisão para as mídias sociais?

Para tentar entender melhor essas e outras questões, o #MUSEUdeMEMES foi a campo e entrevistou Renan Schwarz, o criador do Chapolin Sincero. A entrevista foi realizada em 18 de abril de 2017, nas dependências da Universidade Federal Fluminense. Então, não priem cânico, e sigam-nos os bons!

#MUSEUdeMEMES De onde surgiu o Chapolin Sincero? Como se deu essa escolha pelo personagem para figurar no conteúdo que você cria?
Renan Schwarz O Chapolin Sincero surgiu em 2012, após várias tentativas de emplacar um meme que se tornasse um viral nas redes sociais. Na época, não tinha tantos memes, então eu acreditava que ali tinha um formato interessante, que as pessoas iriam consumir. E, logo após meu amigo ter lançado a Gina Indelicada, é que veio a sacada de aproveitar esse embalo, porque ele gerou uma mídia muito forte em cima dessa coisa do meme; e eu aproveitei e criei o Chapolin Sincero. E veio, nada mais, nada menos, depois de várias tentativas, de erros e acertos, que eu fui pegando de outras páginas que eu havia feito, e tornei aquilo em algo melhor. Fui aperfeiçoando, na medida em que foi passando de uma página [as primeiras tentativas] para outra [as tentativas subsequentes]. No momento em que um amigo meu compartilhou uma foto do Chapolin Colorado na minha timeline, eu percebi que aquele seria o meme ideal. Eu testei [o personagem], e é lógico que, de cara, não teve aquela repercussão, mas eu persisti, e hoje já são mais de 17 milhões de seguidores, somando Instagram e Facebook.

#MUSEUdeMEMES Aproveitando a deixa, como e quais foram essas tentativas sem sucesso? Nos conta um pouco sobre as diferenças fundamentais entre elas e o Chapolin Sincero.
Renan Schwarz Quando eu cheguei no Facebook, já tinha alguns amigos meus com páginas, e eles já estavam fazendo dinheiro com essas páginas; eles já estavam trabalhando há um tempo em função de ter esses virais no Facebook. Então eu me interessei por aquilo e comecei a fazer páginas semelhantes. A primeira, lógico, é muito primitiva perto do que o Chapolin se tornou, mas eu testei essa coisa de frase-em-cima-de-foto e percebi que algumas piadas encaixavam bem, e [que em] outras o pessoal não tava nem aí, literalmente cagava pra mim. Mas, na medida em que eu fui tendo mais sacadas, de acontecimentos que movimentavam a internet, eu fui pegando algumas referências e fui criando. Eu tive sete páginas antes do Chapolin. Cheguei a ter uns 60-70 mil seguidores somando todas as páginas. Nem perto do que o Chapolin representa hoje. Mas foi essencial para que eu pudesse lançar o Chapolin Sincero dentro de uma dessas páginas, e ter pego essa repercussão.

#MUSEUdeMEMES Então você incubou o Chapolin Sincero dentro de uma dessas páginas e o gestou ali?
Renan Schwarz Exatamente. Eu já tinha uma página com uns 40 mil seguidores, que foi a última que havia criado antes [do Chapolin Sincero]. E essa página era de humor. Eu passava o dia inteiro atualizando. Só que eu dividia essa página com um amigo meu, e digamos que ele tinha um percentual maior nessa página do que eu. Eu precisava criar a minha página, a minha pegada, sabe? [Um espaço em que] Tudo o que eu fizesse seria só meu, digamos assim. Então lancei o Chapolin, e comecei a compartilhá-lo dentro dessa página. E deu muito certo. As pessoas começaram a seguir, compartilhar, curtir. E meio que virou uma bola de neve. Em uma semana eu cheguei a pegar na média de 100 mil seguidores. Ainda era menos que a referência dos meus amigos; por exemplo o Gina [Indelicada], que pegou dois milhões em uma semana. Mas ainda assim eu passei a crescer de uma maneira consciente, sem me envolver em muitas polêmicas, e de uma maneira constante. Hoje, sou maior no Instagram do que no Facebook. E venho crescendo cerca de 80-100 mil seguidores por semana. Então é um formato que deu e vem dando muito certo.

#MUSEUdeMEMES Como se chamava essa página que você dividia com seu amigo?
Renan Schwarz Eu não lembro o nome. Mas era algo como “Muito Humor no Face". Era uma coisa muito aleatória. Talvez “Não Pode Rir no Face". Algo por aí. Se você for ver, deve ter uns 400 mil seguidores, porque ele continuou. Porque a partir do momento que o Chapolin deu certo eu larguei essa página e fui cuidar do Chapolin.

#MUSEUdeMEMES Qual a sua formação original?
Renan Schwarz Cursei até o quarto ano de Publicidade e Propaganda.

#MUSEUdeMEMES E em que medida o conhecimento adquirido no curso de Publicidade foi importante para esta empreitada?
Renan Schwarz Com certeza [foi importante]. É um curso que estimula muito a criatividade de novos projetos. E, digamos, com uma pegada até empreendedora. Só que eles não têm uma ênfase em redes socais e internet. Na época, as redes sociais nem eram tudo isso. Foi em 2010 que entrei na faculdade, e que comecei a ser estimulado nessa coisa da criatividade, apostando em produto, criando alguma coisa que as pessoas realmente quisessem comprar, em que quisessem anunciar etc. E foi graças à Publicidade que eu tive referências pra criar sites, blogs, e coisas que antecederam o Chapolin. Eu fui colocando em prática tudo o que fui aprendendo em cada etapa da minha vida. Então, ao contrário dos outros alunos, dos meus amigos que estavam lá, na sala de aula, eu tinha essa coisa de querer colocar em prática. Saindo da aula, eu chegava em casa e já colocava alguma coisa no meu site, blog, referente ao que eu aprendi. Claro que eu sempre tive blog de humor e sempre fui envolvido com esse tipo de segmento. Então, meio que adaptava aquilo que a professora falava em sala de aula, e trazia pras páginas, blogs e sites que eu tinha. A universidade teve uma grande influência nesse sentido.

#MUSEUdeMEMES De onde vem a inspiração para as piadas e conteúdo da página?
Renan Schwarz Muitas piadas vêm do nosso cotidiano. Da análise do que todo mundo passa. Transformo isso numa coisa engraçada. Mas a gente recebe centenas de sugestões todos os dias. Chega a beirar 200 mensagens diretas, e emails, e outras [formas de contato]. Daí, vamos adaptando de acordo com o que a gente acha que o público vai gostar e vai se identificar. A gente é bem livre pra fazer o conteúdo. A gente pensa e se coloca no lugar das outras pessoas, do cidadão. E isso, na verdade, eu acho, é a essência do Chapolin. A gente não faz só piada que a gente gosta; a gente faz piada que as outras pessoas vão poder se identificar e também marcar amigos e compartilhar com outras pessoas.

#MUSEUdeMEMES Há algum limite ou humor que o Chapolin Sincero não faria?
Renan Schwarz Tem sim, várias coisas. A gente não entra em polêmica. Coisa que as pessoas costumam chamar de fofoca, de intrigas, temas políticos, defendendo um partido de um lado ou de outro, religião. Nós temos nossos temas, nossos filtros e somos bem conscientes disso. Sabemos que qualquer tirinha, qualquer frase que fizermos que soe de uma maneira ruim pras pessoas, será transformado em algo muito maior, porque hoje nós temos um impacto gigantesco. Cada tirinha é vista mais de dois, três, quatro milhões de vezes. Então é uma responsabilidade muito grande que a gente tem. E temos que trabalhar isso de uma forma consciente, sabendo nosso papel na sociedade a partir do momento que temos todos esse milhões de seguidores.

#MUSEUdeMEMES Mas o Chapolin já teve problemas com conteúdos que foram considerados ofensivos por algumas pessoas? E como você lida com os haters de plantão?
Renan Schwarz Haters a gente deixa falar, né. Porque haters todo mundo tem. Jesus teve haters né, então quem sou eu pra não ter! O que a gente trabalha é na função de não criar mais intriga com esses haters, com essas pessoas. Já tive algumas postagens que não agradaram, mas não chegaram a ser ofensivas. Dentro de um universo onde eu vou falar de humor, tem muitas pessoas que aceitam brincadeira e outras pessoas que não aceitam. E dentro de um mesmo grupo, como no caso em que eu brinquei com um curso universitário na página, alguns não gostaram e outros adoraram e marcaram amigos na postagem. Mas entre gostar e não gostar, nós optamos por deletar. Nós já passamos por alguns aprendizados nesse sentido, acho que todos acabam passando…

#MUSEUdeMEMES No início deste ano, o Grupo Chespirito tentou tirar do ar a página do Chapolin Sincero [O caso foi noticiado em diferentes veículos de comunicação. Na ocasião, um dos atuais administradores da página do Chapolin Sincero, Fábio Velozo, informou aos seguidores que fanpage corria o risco de sair do ar, como ocorrera com o perfil do Instagram. As informações davam conta de que o grupo detentor dos direitos sobre o personagem havia denunciado a violação de copyright. O Grupo Chespirito emitiu nota, em seguida, apoiando o trabalho realizado pela página do Chapolin Sincero e pedindo desculpas pelo ocorrido]. Você pode nos contar o que houve na época? E como você conseguiu manter a página no ar, afinal?
Renan Schwarz A gente foi pego de surpresa, no final de janeiro deste ano, quando nosso Instagram foi deletado. Simplesmente foi deletado. E, aí, fiz uns contatos no Facebook e me informaram que o grupo Chespirito havia pedido pra tirar do ar, por deter os direitos de imagem [sic] das séries Chaves e Chapolin. Eles deixaram o Facebook, e a gente fez uma postagem [alertando o público do ocorrido]. Eu criei ali um texto falando tudo que aconteceu, marquei o grupo Chespirito, mas não pedi pras pessoas comentarem, xingarem, ou fazer nada; só marquei a página deles. E mesmo assim, mais de 3 milhões de pessoas ficaram envolvidas nessa publicação. E isso gerou um impacto gigantesco junto à página deles. Eles [o Grupo Chespirito] tiveram realmente algumas horas de perturbação, porque milhares de pessoas começaram a comentar todas as postagens. Postagens de dois, três anos atrás eles [fãs do Chapolin Sincero] comentavam falando coisas do tipo “devolve o Chapolin"… fizeram uma campanha, textos enormes falando do Chapolin, o quanto a gente agregava pras pessoas no sentido de humor. E, então, voltaram atrás dessa decisão e fizeram um comunicado, tanto em espanhol como em português, a partir da fanpage deles, dizendo que havia algum mal entendido, e desconversaram. Dois dias depois, voltou o Instagram. E voltamos, dizendo o que tinha acontecido, e que tínhamos agora os direitos de imagem que eles finalmente aprovaram pra gente. A Marcela [Palomar], que é a diretora geral do Grupo Chespirito autorizou pra gente o uso das imagens, das fotos, da série inteira em si; e disse que não tem nenhum problema em continuarmos os trabalhos e o que a gente já vem fazendo tão bem feito.

#MUSEUdeMEMES Então vocês tem essa autorização oficial agora?
Renan Schwarz Então, a gente não tem o contrato. Mas tem a autorização da diretora.

#MUSEUdeMEMES E como você enxerga a questão dos direitos autorais relacionados às paginas de humor, ou de outros gêneros, que criam conteúdos derivados de outros, como é o caso do Chapolin, da Gina e de tantos outros?
Renan Schwarz No começo, logo que lancei o Chapolin, eu não tinha a noção da repercussão que isso iria tomar. E eu nunca imaginei que um dia iria chegar a informação lá pro pessoal, no Méxixo, de que existe uma página, aqui no Brasil, chamada Chapolin Sincero etc. Então o que eu acho é que hoje a internet está muito rápida, o volume de pessoas conectadas é muito maior do que há cinco anos, quando comecei. E a responsabilidade, hoje, é muito grande. Você tem que pensar duas, três, quatro vezes antes de usar a imagem de outra pessoa, digamos assim, pra fazer um meme, pra fazer uma página, porque isso vai gerar um impacto muito grande se sua página bombar. Essa pessoa pode, obviamente, pedir pra tirar do ar, ela pode te processar, se você resolver continuar etc. Então tem que ter um certo cuidado. Hoje devemos ter consciência disso. Se eu fosse lançar o Chapolin hoje, talvez nem o fizesse, talvez eu usasse um outro formato ou outra pegada pra ficar mais livre em relação a isso. Mas meus outros amigos que têm página [em condições semelhantes] conseguiram essa autorização. Na medida em que eles ganharam milhões de seguidores, as marcas, as pessoas ‐ pois a vezes não são nem marcas que estão vinculadas a essas páginas ‐, se conscientizaram do impacto positivo que essas páginas têm pra vida delas. Ainda assim, é preciso que tomar cuidado, sim, e pensar se vale realmente a pena. Talvez seja mais interessante chegar para marca e de repente dizer “tive uma sacada muito boa, vocês não querem me contratar?"

#MUSEUdeMEMES Você reproduz conteúdo de terceiros? E como lida com a reprodução de conteúdo do Chapolin Sincero? Conta pra gente como você constitui sua rede junto a páginas de humor ou até de outros gêneros.
Renan Schwarz No começo do Chapolin, eu passava muitas horas escrevendo meu conteúdo e minhas piadas; e eu notei que quando uma piada minha bombava, ela era replicada por outros perfis, com outros personagens, com outras imagens… Eu percebi que não vale a pena ficar lutando contra isso. O objetivo desde o começo foi levar humor e alegrias pra vida das pessoas, e de certa forma fazer com que elas melhorem a auto-estima delas, seja dando risada, compartilhando com os amigos, quebrando o gelo. Então o objetivo tem sempre que ser maior do que ficar simplesmente apegado à piada. Porque a piada, uma fez feita, a pessoa vai ouvir, vai contar ao amigo, e assim vai. A gente foi crescendo assim, e também trocando piadas com outras páginas. E dentro das maiores páginas a gente já se conhece. Todo mundo ali já usou a piada um do outro. A gente tem essa troca numa boa. Como nós nos conhecemos, a gente ajuda um ao outro; tem sido uma coisa saudável.

#MUSEUdeMEMES Já existiram muitos clones do Chapolin Sincero?
Renan Schwarz Acredito que existam cerca de 200 fakes, se somar Instagram e Facebook. Mas é outra coisa também que eu nunca lutei contra. Tá certo que logo que eu entrei no Instagram existia uma página do Chapolin Sincero lá dando todas as minhas piadas do Facebook e meu formatos, usando todas as minhas tirinhas como se fossem dele. Daí eu pedi para o Instagram deletá-lo e então eu subi minha página e permaneci sempre no topo lá. Mas eu nunca lutei contra os fakes, porque eu acho que meu objetivo é realmente disseminar essa coisa da piada, do humor, da brincadeira. E de certa forma, [os fakes] então me ajudando a disseminar o memes em si. Às vezes, a pessoa viu pela página do fake e não pela minha, o que acaba repercutindo o conteúdo e já me ajuda também, porque no final das contas quem vai ser convidado pra palestras, entrevistas, eventos, vai ser a gente que criou os originais.

#MUSEUdeMEMES Com quais páginas e perfis o Chapolin Sincero tem uma relação mais forte, tanto no Facebook como no Instagram?
Renan Schwarz Nossa, são várias. Porque, às vezes, um mesmo amigo tem umas cinco páginas. Tem [no Facebook] a Irmã ZuleideBode GaiatoCremosinhoPorque Você Não Amadurece… tem várias páginas que a gente vai conhecendo. E, no Instagram, nosso forte ali são os contatos com os artistas, os cantores, celebridades e pessoal do show business.

#MUSEUdeMEMES Considerando que as plataformas em que você trabalha o Chapolin têm gramáticas e funcionamentos distintos, como você lida e entende as diferenças entre Facebook e Instagram para criar conteúdo e administrar os perfis?
Renan Schwarz A internet é teste atrás de teste. A gente vem fazendo isso todos os dias. Então tem piada que dá muito certo no Instagram, mas que no Facebook é um fracasso total. E aí a gente opta por ocultar ou deletar. E tem piada que bomba no Facebook e que no Instagram não dá nada. São públicos diferentes. Temos muito mais pessoas no Instagram do Chapolin do que no Facebook, e isso também influencia a criação do conteúdo. As vezes criamos coisas específicas pro Facebook, que não necessariamente a gente precisa jogar no Instagram, porque a gente sabe que ali as pessoas aceitam de uma forma melhor. Às vezes elas têm mais tempo pra ver um conteúdo no Facebook do que [o tempo que passam] no Instagram. Então são redes sociais diferentes, sim.

#MUSEUdeMEMES Você teria algum exemplo de um conteúdo que funcionaria melhor no Instagram ou no Facebook?
Renan Schwarz Digamos que vídeos, a curto prazo, é muito legal no Instagram. Mas, a longo prazo, é melhor no Facebook, porque ele tem um algoritmo que possibilita que seu vídeo seja assistido daqui a uma semana, um mês, um ano. Já no Instagram é algo que pode circular em algumas horas, um dia atrás no máximo. No Instagram há muito mais volume de postagem no feed das pessoas do que no Facebook. E os algoritmos funcionam de forma diferente. Há também uma diferença no tamanho de tirinhas que eu faço, por exemplo, uma tirinha um pouco maior cabe no Facebook, mas ficaria muito pequena pra ser visualizada completamente pelo celular no instagram. No Instagram, a gente se baseia basicamente por curtidas. Já no Facebook, analisamos compartilhamento, curtidas, comentários. Então a gente tem essas diferenças entre essas redes sociais.

#MUSEUdeMEMES Os usos e gramática do Facebook também mudam, por razões técnicas e sociais, com o decorrer do tempo. Como o Chapolin Sincero tem sobrevivido a essas mudanças?
Renan Schwarz Lá no começo do Chapolin, o algoritmo funcionava de um jeito completamente diferente do de hoje. Naquela época, o Facebook liberava um alcance numa faixa entre 20-25%, então qualquer piada que eu fazia bombava, e isso pegou uma repercussão muito grande. Hoje em dia, a postagem no Facebook aparece primeiramente para 0,5% dos seguidores e isso é uma queda brusca na quantidade de pessoas alcançadas. Mas isso faz com que a gente se desafie dia após dia a tentar fazer uma piada melhor, um conteúdo melhor, e não fazer qualquer piada esperando dar certo. A gente tem que trabalhar para levar um conteúdo melhor pras pessoas e isso faz com que a página tenha um valor mais significativo para as pessoas.

#MUSEUdeMEMES Vocês apostam muito no formato image macro. Como se deu essa escolha?
Renan Schwarz No começo do Chapolin eu já usava esse formato. Na verdade as imagens do Chapolin que eu uso são poucas. São mais ou menos cinco imagens que eu fico revezando, e que, desde o começo, têm sido as mesmas. Essas cinco imagens encaixam, eu acho, com qualquer piada. Eu acho que é um formato perfeito dentro de um universo de memes. Desde de 2012, o Chapolin é a única página que se manteve fiel ao [estilo] que começou.

#MUSEUdeMEMES E a escolha do Chapolin como personagem para página? Fala um pouco mais sobre pra gente.
Renan Schwarz Foi muito por conta dessa maneira descontraída do personagem. Ele é um personagem que é engraçado, mas atrapalhado, é meio bobão; então ele fez parte da infância da maioria das pessoas e eu acreditei que aquela seria a aposta ideal, e tem sido assim.

#MUSEUdeMEMES Muitas páginas tentam estratégias semelhantes às do Chapolin para a criação de seu próprio conteúdo. Nem todas são bem sucedidas. A que você atribui o sucesso do Chapolin Sincero?
Renan Schwarz Eu acho que não há um único fator a que eu possa me referir como explicação para o sucesso da página. Eu acredito que são momentos “empilhados", que foram acontecendo ao longo dos anos, e transformaram o Chapolin no que ele é hoje. Não foi simplesmente uma piada que eu fiz que bombou, mas a construção e disseminação de um conteúdo criativo, legal, que as pessoas pudessem marcar os amigos, espalhar no Whatsapp, no Instagram. Acho melhor [que pensem] “eu quero compartilhar esse conteúdo com meus amigos, porque isso aqui a gente viveu junto". Com base nisso, o Chapolin vem crescendo bastante. Apostando na identificação das pessoas. Mas, acima de tudo, apostando que elas passem isso pros seus amigos e outras pessoas próximas a ela. Essa é a essência da página.

#MUSEUdeMEMES Você obtém algum ganho financeiro com a página? E que oportunidades profissionais o Chapolin te proporcionou?
Renan Schwarz Depois que o Chapolin começou a ganhar uma repercussão grande, aconteceu de ter o reconhecimento pelas marcas. As marcas querem estar ligadas, atreladas a algo legal, bacana, que todo mundo tá compartilhando, tá fazendo. Então naturalmente elas acabaram me procurando. E, hoje, digamos que a gente tá muito bem estruturado em relação a isso. Somos hoje procurados pelas maiores agências e marcas do país inteiro e também estamos fazendo trabalhos por fora. Eu digo “nós", porque, a partir de um ano e meio, dois anos de Chapolin, eu chamei um sócio pra vir me ajudar nisso, então é outra cabeça pensante que ajudou a pensar e comercializar a página. Já que no Facebook, Instagram, o retorno financeiro não é como no YouTube, onde você tem seu canal e sua publicidade dentro do canal que vai fazer você ganhar alguns centavos conforme a visualização. No Facebook e Instagram, temos de bolar outras formas pra que isso vire dinheiro. Eu também fui convidado pra trabalhar em grandes marcas de grandes agências, com cantores, com artistas, pessoal do show business. Então, a gente foi meio que diversificando nossa forma de ganhar.

#MUSEUdeMEMES Você mensura o público da página? Fala um pouco pra gente.
Renan Schwarz Então, a gente tem em média 200 milhões de impressões semanais dentro do Instagram e dentro do Facebook fica em torno de 60 milhões de pessoas alcançadas toda semana. Uma média de dois milhões de visualização por postagem no Instagram, e, no Facebook, de um um milhão, um milhão e meio. A faixa etária majoritária é de 18 a 24 anos. São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Média de 63% mulheres e o restante homens, entre os seguidores, ao menos no Instagram. No Facebook, os dados são parecidos.

#MUSEUdeMEMES Em que medida o personagem televisivo Chapolin (com sua astúcia rs) contribuiu pro Chapolin Sincero?
Renan Schwarz A gente vem trabalhando o crescimento da página, mas sempre de maneira consciente respeitando o personagem. Esse respeito pelo personagem vem desde lá do começo. Aliás, desde o começo da minha vida, porque eu gravava Chapolin e Chaves com cinco anos de idade. Quando eu ia pra escola, eu deixava o gravador programado. De certa forma, isso sempre foi uma referência na minha vida. Eu tinha o sonho de conhecer o Roberto Bolaños, mas infelizmente isso não foi possível. Tive o reconhecimento, através do Chapolin Sincero, da família dele, que vieram à página me parabenizar. Então, o Chapolin até hoje quando é reprisado, é muito respeitado pelas pessoas. Acho que as pessoas gostam porque ele remete muito à infância delas. E, de certa forma, eu também ajudei a voltar pra TV; participei de campanhas pro retorno da série. Fui procurado pela Netflix, que me pediu pra divulgar o conteúdo do Chapolin na página deles…

#MUSEUdeMEMES Entre as influências para a criação do Chapolin Sincero, há alguma página, perfil ou site do exterior que tenha servido de inspiração?
Renan Schwarz Então, lá no começo eu via muito a 9GAG, que inclusive acho que é maior página de humor do mundo, com mais de 30 milhões de seguidores no Instagram. Eles me influenciaram bastante, porque eu meio que tirei umas sacadas de como usar as imagens, as frases etc. [de lá]. Não que seja o mesmo conteúdo, porque acho que as pessoas [os públicos] são bem diferentes. Mas eu consegui aproveitar bastante dessa referência.

* Agradecemos publicamente a Luiza Bittencourt e Daniel Domingues pelo contato inicial, que resultou na participação de Schwarz como convidado em palestra proferida na universidade, e possibilitou a entrevista na sequência.

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